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Estudo diz que água pode ser fonte de infecção por toxoplasmose

Dandara Flores Aranguiz

Uma pesquisa realizada pelo Laboratório de Doenças Parasitárias (Ladopar) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) em suínos apontou que a água pode ser a principal fonte de infecção de toxoplasmose. O estudo, que começou a ser feito em agosto deste ano, foi realizado a pedido da Vigilância em Saúde do Estado e do município, e os primeiros resultados foram apresentados no 4º Simpósio Brasileiro de Toxoplasmose, realizado nos dias 1º e 2 de outubro, em Brasília.

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Para o experimento, dois suínos ingeriram, durante seis semanas (42 dias), água esterilizada, e oito consumiram água potencialmente contaminada. A conclusão do estudo, até o momento, mostra que todos os animais que consumiram amostras de água potável coletada para a pesquisa foram infectados com a doença.

- Antes de iniciar o experimento, nenhum tinha anticorpos. No momento em que eles começaram a apresentar anticorpos, significa uma exposição a uma infecção. Ou seja, a água pode ser fonte de infecção. Não quer dizer que a água é a fonte de infecção do surto de toxoplasmose em Santa Maria. Precisamos terminar outros estudos para tentar associar o mesmo genótipo do surto com o que a gente encontrou nos suínos - destacou a professora do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Fernanda Flores Vogel, responsável por coordenar o laboratório que está fazendo a pesquisa.

Apesar de o estudo reforçar que a água pode ser a principal fonte de infecção da toxoplasmose, os resultados ainda são preliminares. Agora, os pesquisadores precisam encontrar o protozoário nos tecidos dos suínos utilizados na pesquisa para, após, tentar fazer a genotipagem (identificar o tipo do gene do protozoário), para, depois, fazer a comparação com o protozoário já isolado das placentas das gestantes que tiveram a infecção durante o surto.

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- De onde veio a infecção? Só tem uma explicação: da água. Pois aqueles dois porquinhos que comeram a mesma coisa e só não beberam a mesma água permaneceram com sorologia negativa no experimento. Estamos na fase de tentar isolar e detectar o DNA. A gente espera que, em 40 ou 45 dias, tenhamos os resultados. Temos planos de repetir o experimento com novas amostras de água para ver se a infecção ainda persiste - explica Fernanda.

Com isso, a recomendação é que as pessoas continuem tomando os cuidados preventivos no dia a dia (principalmente, beber água fervida, filtrada ou mineral), ainda mais para quem faz parte do grupo de risco - gestantes e pacientes imunocomprometidos - e limpem suas caixas d'água (veja como na página 17).  

RESPOSTAS

A Secretaria Estadual de Saúde (SES) respondeu que "mesmo que a investigação de campo e laboratorial não tenha identificado a fonte de infecção, a análise realizada pela universidade só veio a reforçar o cuidado que a SES já vinha fazendo nos últimos meses". O Diário enviou os questionamentos sobre o assunto à prefeitura, que informou que se manifestaria por meio de nota oficial (veja abaixo).

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O diretor de operações da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan), Eduardo Carvalho, disse, em entrevista ao Diário, que a concessionária desconhecia o estudo e que a mesma água coletada na limpeza dos reservatórios da Corsan em julho e que foram usadas no estudo tiveram resultado negativo para a presença do protozoário segundo o Laboratório de Parasitologia, Zoonoses e Saúde Pública da Universidade Estadual de Londrina (UEL), que fez a análise das amostras enviadas na época. Disse, também, que o estudo submeteu os animais a diversos tipos de água, de maneira indistinta.

- A mesma água que foi enviada para Londrina e deu negativa, aqui deu positiva, porque a gente tem animais que são altamente suscetíveis, e essa suscetibilidade é maior do que a sensibilidade do teste que é usado em amostras de água - diz a pesquisadora Fernanda Flores Vogel.

COMO FOI FEITA A PESQUISA

  • O estudo teve início em agosto deste ano. Foi feito pelo Laboratório de Doenças Parasitárias (Ladopar) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) a pedido das Vigilâncias em Saúde estadual e municipal
  • Como o diagnóstico de amostras da água apresenta baixa sensibilidade e precisão menor do que 50%, optou-se por utilizar os suínos como modelo experimental, por serem considerados uma espécie altamente suscetível à infecção pelo Toxoplasma gondii 
  • Ao todo, 10 suínos foram utilizados no experimento. Todos receberam o mesmo tipo de alimentação. Desses, oito porcos receberam água potencialmente contaminada (de caixas d'água residenciais, de reservatórios do sistema de abastecimento da cidade, de leito filtrante de filtros residenciais e água de consumo de captação subterrânea) e dois receberam água esterilizada, ambos durante 42 dias 
  • Durante todo o período experimental, foram realizados, semanalmente, exames sorológicos dos suínos para avaliar se produziram ou não anticorpos. As coletas de sangue ocorreram 7, 14, 21, 28, 35 e 42 dias após o início da ingestão de água 
  • Após o dia 14, todos os oito porcos que tinham ingerido a água potencialmente contaminada tinham produzido anticorpos contra o toxoplasma. Os dois que beberam água estéril, permaneceram com sorologia negativa durante todo o experimento
  • A água utilizada no experimento foi coletada pela Vigilância em Saúde do Estado e do município. Em relação à água das residências, foi feita coleta em cerca de 30 caixas d'água de regiões onde havia o maior número de casos de pessoas contaminadas com toxoplasmose na cidade 
  • A água administrada aos animais foi misturada (os porcos beberam tanto a água de residências quanto a água da limpeza dos reservatórios da Corsan) 
  • O próximo passo é tentar fazer o isolamento do protozoário em fragmentos de tecido dos suínos e, após, detectar o DNA e fazer a genotipagem para determinar se alguma cepa potencialmente isolada é igual à cepa isolada de tecidos placentários de pacientes com toxoplasmose aguda. Estima-se que, dentro de 45 dias, os primeiros resultados sejam conhecidos

O QUE DIZ A PREFEITURA

A seguir, a nota oficial emitida pela prefeitura de Santa Maria a respeito da pesquisa feita pela UFSM:

"O referido estudo foi coordenado pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em parceria e com acompanhamento dos servidores da Vigilância em Saúde do Município. Os resultados parciais indicam para contaminação pela água, corroborando com a investigação já realizada pelos técnicos do Ministério da Saúde. Porém, os resultados ainda não são conclusivos nem definitivos. 

Também é importante ressaltar que "por contaminação pela água" deve-se entender que essa é a natureza do protozoário encontrado, uma vez que ainda há variáveis a serem consideradas, tais como a forma de abastecimento e armazenamento da água. De qualquer forma, reforça-se à população a necessidade de manter e intensificar os cuidados preventivos, em especial, a limpeza dos reservatórios e caixas d'água.

A parceria entre UFSM e Prefeitura de Santa Maria será mantida para realização de outros estudos, coordenados pela Profª Fernanda Flores Vogel, uma vez que a grande preocupação do município é avançar no processo de investigação para chegar à origem do surto na cidade.

Sobre a busca ativa, conforme a Superintendência da Vigilância em Saúde, continuam sendo realizados os questionários para casos antigos e novos, por telefone (no caso, a Vigilância liga para as pessoas). No entanto, não há mais busca ativa.

Também de acordo com a Vigilância em Saúde, não há mais amostras em haver. O setor recebeu todos os resultados pendentes. Agora, só são aguardados os resultados das amostras enviadas à Universidade Estadual de Londrina (UEL) pela Corsan."

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